sábado, 2 de junho de 2012

P 01 _ Patrística _ Santa Tecla

Neste blog pretendo publicar agora algumas postagens sobre Patrística. Vamos começar por uma santa que sempre me fascinou: Santa Tecla!

          Os escritos biográficos a respeito da Virgem e Protomártir Santa Tecla, apesar de bastante reduzidos, sempre são lidos com interesse. 

          Várias vezes mártir em virtude das provações mortais que reiteradamente suportou, Santa Tecla foi uma das “Virgens prudentes” de que Jesus nos fala no Evangelho. E ainda hoje o seu exemplo constitui poderoso estímulo, muito embora nada menos de que dezenove séculos dela nos separem. 

          Nos primeiros tempos do Cristianismo, os maiores Padres da Igreja tributaram-lhe, sem regatear, magníficos elogios. Naquela época, para louvar uma moça de muitas e sólidas virtudes, dizia-se: “Parece uma Tecla”. 

          Possas tu também, piedosa leitora, sempre merecer elogio semelhante, para maior glória de Deus e para o bem de tua alma.

          Praza aos céus que sejas “uma Tecla!”

Capítulo I

Nascimento e Educação de Tecla 

          É a Virgem Santa Tecla a virgem mártir entre as mulheres cristãs, assim como Santo Estêvão é o protomártir dos homens.

          Nasceu por volta do ano trinta da era cristã, em Ícone, grande e ilustre cidade da Licaônia, que se tornou muito falada porque Perseu mandou erigir ali uma estátua a si mesmo.

          Seus pais, Mésimo e Teóclia, contavam-se entre as pessoas mais notáveis da cidade. A residência do casal distinguia-se pela prodigalidade dos banquetes e festas particulares que nela se realizavam, e não menos também pelas preciosidades que a enriqueciam. S. Metódio, Bispo de Tiro, conta que a família de Tecla, nobre e rica, era, no entanto, apegadíssima a idolatria e a superstições.

          Em conformidade com os costumes gregos da época e com o modo de viver das famílias nobres, Tecla foi educada na indolência e no mais aparatoso luxo. Não descuraram, porém, de fazê-la interessar-se pela literatura e pelas belas-artes.

          Seu pai, posto que todo entregue à administração dos seus avultados bens e preocupado sempre em tratar de lautos banquetes para agradar mais aos numerosos amigos que cotidianamente lhe honravam a mesa, não se esquecera do adquirir as obras das escolas de Atenas e de Roma, formando assim uma biblioteca muito rica, à sua jovem filha dava particular apreço.

          Desde os mais tenros anos demonstrara Tecla um interesse todo especial pelo estudo e pela cultura da inteligência. Gostava de ficar sozinha. Preferia as conversas sérias. E sentia uma estranha contrariedade, certa repugnância mesmo, quando seus pais, bons pagãos que eram, sacrificavam a Júpiter e a Vênus, a Mercúrio ou a Marte, e lhe ordenavam que praticasse os mesmos atos de idolatria.

          Com o decorrer dos anos, tornou-se nela mais profunda essa contrariedade e repugnância.

          Como era pessoa de superior inteligência e de coração propenso para o bem, não tardou em considerar como simples imagens materiais o que o povo iludido chamava de deuses, imagens, no entanto a que ela também se via obrigada a sacrificar.

          Maiores luzes proporcionou-lhe o estudo da filosofia. Entretanto, esta matéria, em que particularmente se habilitou, a ponto de poder enfrentar qualquer discussão, mostrava-lhe a futilidade das ideias religiosas pagãs, mas a deixava em face de uma eternidade para a qual o homem era certamente destinado, e afinal não lhe revelava os meios de alcançar com êxito essa eternidade.

          Nisto consistia o péssimo serviço que a filosofia pagã já havia prestado até mesmo a Platão, e, que agora consequentemente, prestava a Tecla, infundindo-lhe receio e impelindo-a para a frustração.

          Muitas vezes, depois de longas horas passadas a estudar, Tecla, insatisfeita, dirigia-se para a sacada dos seus aposentos, e ali quedava-se imóvel, contemplando o sol que lentamente desaparecia no horizonte...


          Se o meu espírito – pensava a jovem – deverá um dia sumir-se como aquele astro que lá tão longe transmonta, para que fui eu então criada? E se é verdade, como afirma Platão, que ele há de sobreviver, qual será afinal o seu destino? Será que algum deus o tomará consigo? E se assim for, quem será esse Deus? Entre todos os deuses que se fazem adorar, entre todas as criações dos petas, onde estás, qual deles és tu, ó Deus meu criador? Sem dúvida me queres bem desde o momento em que pensaste em mim e me tiraste do nada. Ó Ser misterioso que me criaste, Ser benfazejo, Ser infinito, se realmente existes, se me amas como tanto desejo, se me amas como creio, faze que eu te conheça!...

                Enquanto o coração de Tecla assim agitado e insatisfeito anelava pelo Sumo Bem, outros cem corações juvenis e ardentes palpitavam de amor por ela. 

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